Não sei bem como começar esse texto. Temo não ser capaz de usar as
palavras certas para sintetizar tudo que quero dizer. Espero que elas me
socorram nessa árdua tarefa.
Pois bem. Quero falar de um amigo e de sua fascinante história.
De família humilde, vindo do Estado do Piauí, enfrentou grandes
dificuldades na infância. Desde cedo, por volta dos 12 anos, começou a
trabalhar. A necessidade não permitia que o tempo livre fosse destinado à
diversão, o que seria próprio de sua idade.
Fez um pouco de tudo. Vendia pequenas coisas na feira, vendia jornais.
Já foi auxiliar de pedreiro, jardineiro e até flanelinha. Vivendo muito próximo
a um cemitério, começou a trabalhar limpando os túmulos e ajudando em tudo o
que ali era possível, a fim de ganhar algum dinheiro que pudesse ajudar a
família.
A situação era tão difícil que este meu amigo não tinha um colchão para
dormir. Às vezes o leito era um tapete; outras, a espuma de um sofá velho sem
forro. Chegou muitas vezes a esperar, do lado de fora de mercadinhos,
aguardando a hora em que as frutas com alguma imperfeição eram descartadas, por
serem consideradas “impróprias” para o consumo. Dali retirava muitas vezes o
que comer.
Mas nas raras ocasiões em que o dinheiro permitia, comprava um livro.
Desde jovem gostava de ler e estudar. Naquela época ele não tinha noção de quão
longe o estudo o levaria.
Morando ao lado de um ponto de venda de drogas, seus pequenos amigos de
vizinhança tornaram-se os principais traficantes do Estado. Mas esse não era o
destino que pensava para si, nem aquele que Deus havia guardado para ele.
Mesmo diante de tantos obstáculos e sempre trabalhando, com muito
esforço preparou-se para o vestibular. Mas antes mesmo da prova, um fato
poderia ter mudado completamente seu destino. Ofereceram-lhe um emprego de
gari, o qual ajudaria bastante no sustento da família. No entanto, obstinado
pelos estudos, decidiu prestar vestibular e lutar por seu sonho.
A gana de vencer e a fé em Deus permitiu que a primeira de muitas
vitórias fosse alcançada: a aprovação no vestibular. Para o curso de letras, na
Universidade Federal e para o de Direito, na Universidade Estadual. Esse fato
foi um marco na comunidade, que nunca havia visto um feito desta natureza: um
aluno de escola pública, sem recursos, vindo de uma família iletrada, aprovado
em cursos superiores de Universidades Públicas.
Grande orgulho para o pai, que teve a alegria de ver o início do sucesso
do filho, pois pouco tempo depois faleceu. É... As coisas nunca foram fáceis
para o meu amigo. Mas esse era apenas o começo. A repercussão de sua aprovação
no vestibular lhe apresentou uma nova profissão. Passou a dar aulas a três
filhos de uma senhora conhecida, até que eles fizessem o vestibular.
Acompanhou-os por vários anos, até a aprovação dos três, um inclusive em medicina.
As aulas permitiam a compra de mais livros e isso propiciava mais
estudo.
Mas a vida ainda era muito difícil. Casou muito cedo, aos 21 anos. O
dinheiro que sustentava a vida e a pequena casa alugada era proveniente apenas
de um estágio em direito e da atividade esporádica de professor. Ter o básico
era um luxo.
Ainda na faculdade, superando mais uma vez todos os prognósticos, foi
aprovado em concurso público para técnico do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
E daí não parou mais. Em seguida, veio a aprovação para o cargo de Analista do
Supremo Tribunal Federal (STF), local em que já começou a mostrar seu valor,
exercendo importante posição de chefia e inclusive chegou a dar aulas para
assessores de ministros.
Em seguida, logrou aprovação para Procurador Federal, carreira
integrante da Advocacia Geral da União (AGU), assumindo o cargo em junho de
2011, em Palmas/TO, onde também passou a ensinar Direito Constitucional na
Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS). Já no final daquele ano foi
eleito o melhor professor da Universidade.
Não fosse o bastante, no final de 2012 conseguiu alcançar seu sonho: a
aprovação para o cargo de Juiz Federal. Que perseverança!
Aquele menino que começou a trabalhar tão cedo, que perdeu o pai tão
cedo e que sofreu tão cedo, também alcançou o sucesso muito cedo. Com 30 anos,
toma posse como Juiz Federal no dia 22 de fevereiro de 2013. E para completar o
sonho, volta para o seu Estado, já que sua primeira lotação será Picos, cidade
do interior do Piauí.
E ainda há um detalhe incrível. Na época em que trabalhava como
jardineiro, chegou a limpar e cortar a grama do Fórum no Piauí. E agora
retornará àquele Estado como membro do Poder Judiciário, na qualidade de Juiz
Federal, mostrando que não devemos nunca desistir dos nossos sonhos.
Essa história lembra-me uma música do Renato Russo, chamada Mais uma
vez, principalmente no trecho que diz: “Nunca deixe que lhe digam que não vale
a pena/Acreditar no sonho que se tem/Ou que seus planos nunca vão dar certo/Ou
que você nunca vai ser alguém (...) Quem acredita sempre alcança”.
Mas não se trata aqui apenas da narrativa de um sucesso profissional,
mas também é preciso falar da personalidade desse meu amigo. Seu sucesso é
fruto da grandeza do seu caráter. As intempéries da vida, as mãos calejadas dos
serviços braçais, ficaram no passado. Sua alegria, simplicidade, simpatia,
pureza, humildade e integridade moral, essas são as marcas do presente.
Seu amor pelos livros também é uma marca registrada. Seu acervo, apenas
de obras jurídicas, é composto por cerca de 500 livros, os quais sempre servem
como fonte de consulta para os amigos, colegas e alunos.
Em Palmas, onde cheguei em setembro de 2012, tive a feliz oportunidade
de conhecê-lo e rapidamente reconhecer nele um grande amigo, já que, na célebre
frase de Vinícius de Moraes: “A gente não faz amigo, reconhece-os”. Amigo leal,
fraterno, sempre à disposição para ajudar e fazendo questão de abrir portas
para os outros. Por meio de seu incentivo e ajuda, neste ano também realizarei
um sonho antigo, o de lecionar.
Por tudo isso, para além de amigo, tornei-me seu admirador.
Seu nome, Clécio Alves de Araújo.
Que Deus permita a você continuar a ser uma luz no mundo, para que não
pare de fazer o bem e de conquistar as pessoas que têm a oportunidade de
conhecê-lo.
Como não poderia deixar de ser, ao lado de todo grande homem, existe uma
grande mulher. E a Socorrinho é o esteio que sempre esteve ao seu lado, nas
lutas e nas vitórias. Pessoa igualmente simples, simpática e amorosa. Rogo a
Deus que conserve a união desse casal.
Sua trajetória é tão bonita, que me faz recordar o filme À procura da
felicidade, que conta a história, baseada em fatos reais, de Chris Gardner,
interpretado por Will Smith.
E falando em felicidade, aproveito o gancho para encerrar com Clarice
Lispector: “A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se
machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre”.
Enfim, que este breve texto sirva de agradecimento pelo aprendizado que
foi conhecer você e sua história, pela alegria da sua companhia, pelo
privilégio da sua amizade. E que esta dure por toda nossa vida.
Muito obrigado, amigo! Fica com Deus.
“Se tens fé cumpre
saberes que tudo é possível àquele que a tem”.
Parabéns , por colocar um texto tão lindo , serve de lição para muito que ," quem acredita sempre alcança" ( Renato Russo ) .
ResponderExcluirRealmente admirável e inspiradora história. Parabéns Prof. Clécio, que Deus continue a iluminar-te. Parabéns Bruno César, ótimo texto! (Mábia Curcino, Aluna da Unitins)
ResponderExcluirUma pessoa fora de série,espitituoso, muitas vezsaguentou meu mau humor em drrotas do flamengo!!! Pois é apesar de anto estudo tanto mérito, nasceu vascaíno!!! rsrsrs Merece tudo de bom e melhor em sua vida DEUS ABENÇOE
ResponderExcluirDr. Clécio n é desse mundo . Conhecer um ser humano como ele é um privilégio. Vida longa pra esse homem que é um.a benção para todos que cruzam o seu caminho
ResponderExcluirQue história linda e inspiradora 😧😧
ResponderExcluirOntem a noite tive a incrível oportunidade de atender Clécio alves na minha barbearia(não o conhecia) extremamente humilde, gentil, tudo que esse texto já falou… só que somente hoje a noite pude conhecer um pouco através de um aluno que ele teve que hoje é advogado(atendi esse aluno dele hoje a noite)
ResponderExcluirEu amo os momentos que a barbearia me proporciona, sou muito grato a Deus por viver essas coisas, obrigado Clécio alves, obrigado quem escreveu esse texto, Deus abençoe a todos!